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Mulheres na Aviação

Escrito por  Sergio Duarte
em 30 de setembro de 2019

Mulheres na Aviação

Quando pensamos ou ouvimos sobre aviação, logo vem na nossa cabeça a adrenalina, o heroísmo, as grandes aeronaves militares e até o filme Top Gun, acertei?! E se alguém te perguntar “quem será que projetou essa aeronave?”, você automaticamente vai dizer “um homem, um engenheiro”. É uma realidade bastante normal, infelizmente. Isso porque a quantidade de mulheres inseridas no meio da aviação é muito pequena. Apesar de pequena, bastante significativa.

Hoje vou começar esse artigo exaltando duas grandes mulheres, Amelia Earhart e Ada Rogato. O que ambas têm em comum? Nunca desistiram do sonho de voar.

Amelia, aos 23 anos, visitou o aeroporto de Long Beach, California, com seu pai e lá viu a sua verdadeira vocação: voar. Trabalhou e lutou muito para juntar dinheiro para realizar as aulas de voo. Um verdadeiro exemplo de mulher! Consertou telefones públicos, dirigiu caminhões, fotografou eventos e finalmente juntou $1000 para pagar as aulas de voo. Antes de conseguir a sua tão sonhada licença de piloto, Amelia já havia batido o recorde de 4.300m de altitude, o mais alto que qualquer voadora já tinha chegado. E sua vontade de ir ainda mais longe só foi aumentando. Em 1932 tornou-se a primeira mulher a atravessar o Oceano Atlântico em voo solo. Infelizmente, em 2 de julho de 1937 seu avião desapareceu após decolar de Papua Nova Guiné, durante uma tentativa de cruzar o planeta. Ainda não se sabe o que aconteceu com a aeronave, há diversos mistérios envolvidos nisso.

Amelia Earhart

 

A história da brasileira Ada Rogato não é tão diferente e deve ser conhecida por todos os amantes da aviação. Ada, que aos 24 anos era funcionária pública, começou os seus primeiros passos na aviação com um planador. Ela foi a primeira mulher da América do Sul a obter um brevê para pilotar esse tipo de aeronave. Essa mulher incrível também era paraquedista e participava de diversos eventos de exibição, saltando e pilotando. Se hoje isso ainda é impressionante, imagina na época! Durante a Segunda Guerra Mundial, Ada foi uma das civis voluntárias que sobrevoava o litoral de São Paulo em missões de patrulhamento.

Em 1950, desbancou um setor totalmente masculino, sendo a primeira brasileira a atravessar, a bordo de um Paulistinha, os Andes em um raio de 11.200km. No ano seguinte, tornou-se a primeira aviadora do mundo a voar 51.064km sozinha por todos os países das três Américas (exceto Bolívia). Tudo isso para levar um pouco da nossa cultura brasileira para outros países! Durante os seus últimos anos de vida, Ada foi presidente da Fundação Santos Dumont e se dedicou à preservação do Museu da Aeronáutica, em São Paulo.

Infelizmente, aos 75 anos de idade, um câncer interrompeu a trajetória dessa grande aviadora brasileira. Ada pode até não ter tido uma repercussão e um legado tão famoso quanto o de Amelia Earhart, mas sem dúvida deixou sua marca e motivação na aviação brasileira.

Ada Rogato

Agora, vamos falar do presente?

Vamos falar de mulheres comuns, jovens, guerreiras que, assim como Ada e Amelia, seguiram a sua paixão pela aviação deixando de lado qualquer preconceito ou dificuldade que pudessem encontrar em uma área dominada por homens: a engenharia.

Erika Moreira, estudante de Engenharia Elétrica da UFSJ e atual capitã da equipe de aerodesign TremKiVoa Micro, mostra que o trabalho pesado não é para qualquer um. Aos 22 anos, Erika tem a função de direcionar todos os 30 membros a produzirem a melhor aeronave possível durante o ano. Participa ativamente de todas as decisões do projeto, otimização e concepção. Além de cuidar das relações entre os membros da equipe, trazendo sempre os valores que devem ser valorizados dentro do projeto e a união da equipe. Perguntamos para a capitã qual foi o momento mais marcante dentro do aerodesign e a resposta foi incrível: “O momento em que você percebe que todas aquelas pessoas confiam em você, no seu trabalho, uma equipe composta na sua maioria por homens e que, mesmo assim, juntos, sabem que somos capazes de construir uma aeronave competitiva para a Competição SAE Brasil.  Em outras palavras, ser mulher só me deixa mais motivada a mostrar que sou capaz de desempenhar um trabalho tão bem quanto qualquer homem, e assim, aos poucos, vamos conquistando nossos espaços, pois merecedoras de tudo isso nós já somos.”

mulheres

Erika Moreira

E não para por aí, Beatriz Freitas, estudante de Engenharia Mecânica da UFJF, é membra ativa na Equipe de AeroDesign Microraptor. Beatriz nos mostra uma realidade bastante normal nos cursos de engenharia “Dentro da engenharia, nós sofremos preconceito constantemente. Como eu faço Engenharia Mecânica, um dos cursos com menor presença de mulheres, já senti isso logo no primeiro período da faculdade. Meus colegas me perguntavam se eu ia dar conta do trabalho de engenharia, mas eu nunca ouvi essa pergunta sendo feita aos outros homens…

No entanto, para a minha surpresa e felicidade, eu encontrei um ambiente totalmente diferente dentro da Microraptor. Logo no início, percebi que as mulheres assumiam cargos de liderança e tinham liberdade para fazer o mesmo trabalho que os homens, não sendo subestimadas por eles. Apesar de sentir muito orgulho da minha equipe por isso, gosto sempre de lembrar que a preocupação com a igualdade de gêneros dentro do projeto é uma obrigação de todos nós e devemos trabalhar para que isso não seja uma surpresa, e sim uma prática constante na engenharia.”

mulheres

Beatriz Freitas

O que concluímos com isso? As mulheres podem e devem ter seu espaço dentro de qualquer área. É incrível saber que independentemente de estarem cursando ou não algum curso na área de aviação, as mulheres buscam e correm atrás dos seus sonhos.

É interessante ressaltar o quão benéfico é estar em uma equipe de aerodesign. Ser útil. Botar a mão na massa. Pensar. Analisar. Projetar. Não se vitimizar ou achar que não dá conta, porque a força que você tem mulher… é do tamanho dos seus sonhos!

E quem nos mostra isso, de forma clara, é a Engenheira de 26 anos, Maysa Liberatti, formada em Engenharia Mecânica pela UNESP e atual funcionária da Embraer. Maysa estagiou na Embraer na área de Engenharia de Desenvolvimento do Produto da Aviação Comercial, no programa E2. No programa pôde ter experiências incríveis, como vivenciar a tripla certificação mundial da aeronave E190-E2 em Fevereiro de 2018. A engenheira conta que trabalhar na Embraer sempre foi um sonho de vida, sendo possível apenas depois de muito esforço e dedicação.

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A Engenheira Maysa na entrega do primeiro E190-E2 para companhia aérea Wideroe.

Assim como Erika e Beatriz, Maysa também foi membro de uma equipe de AeroDesign, a AEROFEG. “Fui capitã da equipe de Março de 2016 a Março de 2018. As experiências que a equipe me proporcionou e os ensinamentos com toda a parte de gestão e de pessoas me fizeram crescer e amadurecer muito, tanto no quesito profissional quanto pessoal.

Enquanto estive como capitã passei por momentos difíceis. Enfrentei dificuldades em como saber lidar com certas situações envolvendo pessoas, além de situações que fugiam do planejado em relação ao cronograma, mas em equipe soubemos superar todos os problemas. Ao longo dos anos, acredito que as maiores dificuldades, além do fato de não termos engenharia aeronáutica na nossa faculdade, foram em conseguir conciliar o tempo de dedicação ao projeto do Aerodesign, a vida acadêmica, pessoal e a equipe.

Passei tantos momentos memoráveis no AEROFEG que fica difícil escolher só alguns, mas com certeza nosso título mundial em 2016 em Fort Worth no Texas/USA e nosso vice-campeonato nacional em 2017 me marcaram muito e são momentos que levarei para o resto da vida.”

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Avião “Barçola” da equipe, que foi campeão mundial de aerodesign no Texas em 2016.

Maysa acredita que as mulheres estão cada vez mais demonstrando sua capacidade e valor. Hoje em dia, vemos mulheres em cargos como projetistas, engenheiras, pilotos, supervisoras, gerentes, entre outras dezenas de cargos que anos atrás não tinham uma presença feminina.

“Acredito que precisamos incentivar as meninas a cada vez mais pensar alto, pensar que elas podem ser e fazer o que quiserem, porque podem mesmo. O interesse por áreas exatas e ciência cresce cada vez mais, mas ainda não está tão presente enquanto somos crianças. Ter pessoas que nos incentivem a crescer e a ser as melhores, e possuir todos os tipos de igualdade, como a salarial e o respeito como somos tratadas, é o único tipo de influência que importa.”

Depois desses exemplos de determinação, só nos resta acreditar que todas nós podemos realizar nossos sonhos, seja na aviação ou em qualquer outra área. Siga seus sonhos e acredite no seu potencial!

Feliz Dia da Mulher. O céu não é o seu limite!

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