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O Brasil é um país imenso, com um potencial agrícola enorme. Novas tecnologias para aumentar a produtividade nesse espaço têm sido desenvolvidas constantemente. A frota de aviões agrícolas, por exemplo, aumenta a cada ano, trazendo inúmeros benefícios para os produtores rurais.
Porém, um avião com missões tão específicas certamente tem suas especificidades de funcionamento e desenvolvimento. Você, como futuro engenheiro projetista, precisa conhecê-las. Continue a leitura e saiba quais são as principais delas.
A missão dos aviões agrícolas é diferente de qualquer outra aeronave. Primeiramente, um avião agrícola é projetado para voar em baixíssimas altitudes, beirando as plantações. Ou seja, a pouquíssimos metros do chão.
Um avião agrícola pode ter como missões, segundo o Art. 2º do Decreto Nº 917, de 7 de Outubro de 1969, o emprego de defensivos, fertilizantes, semeadura, povoamento de água e combate a incêndios.
O uso de aviões na agricultura traz diversas vantagens, tais como a rapidez na execução, o que permite tratar grandes áreas no momento certo, uniformidade de aplicação dos produtos, ausência de danos diretos e indiretos, como “amassamento” das plantações e compactação do solo, e a possibilidade de se trabalhar com pessoal reduzido, visto que o trabalho é feito com produtos tóxicos.
É muito importante entender quem regulamenta e fiscaliza o setor de aviação agrícola. Compete ao Ministério da Agricultura a coordenação, orientação, supervisão e fiscalização de suas atividades.
Alguns outros Ministérios também são responsáveis de acordo com suas competências, como o Ministério da Aeronáutica, no que diz respeito às normas do Código Brasileiro de Ar, o Ministério da Saúde, no que diz respeito aos alimentos, o Ministério da Indústria e Comércio, no que diz respeito às patentes, o Ministério do Trabalho, no que diz respeito à saúde e segurança do trabalhador, e o IBAMA, no que diz respeito ao meio ambiente.
O Decreto 876.765 de Dezembro de 1981 vem para complementar o Decreto Nº 917 e dispõe sobre outros pontos do emprego da Aviação Agrícola, como o tipo de aeronave que pode ser utilizada — apenas equipamentos de dispersão aprovados pelo Ministério da Agricultura e homologados pelo Ministério da Aeronáutica.
A história da aviação agrícola também é um pouco diferente. Alfred Zimmerman, um agente florestal alemão, pode ser considerado o pai da aviação agrícola por ter feito um controle da população de lagartas de uma plantação com um avião de pequeno porte e aplicação dos produtos manualmente.
Mas foi apenas após a Segunda Guerra Mundial que esse segmento ganhou força. O primeiro voo agrícola do Brasil aconteceu em 1947, em Pelotas, para combater uma infestação de gafanhotos. Somente em 1969 é que esse setor ganhou uma legislação própria, por meio do decreto que citamos anteriormente.
Desde o seu “boom” na década de 70, tecnologias para aviões agrícolas vêm se aprimorando cada vez mais, com pontas modernas de pulverização e implementação de GPS para ajudar nas missões.
De acordo com a Cartilha Técnica do Sindag, são mais de 6,7 milhões de hectares atendidos pela aviação agrícola. A maior parte está concentrada na região centro-oeste, no estado do Mato Grosso, e na região sul, mais especificamente em Rio Grande do Sul.
A maior parte (cerca de 60%) dos aviões agrícolas utilizados no país são de produção nacional, fabricados principalmente pela Embraer. O Ipanema, modelo agrícola da empresa, já é produzido a mais de 40 anos. A frota agrícola chegou, em fevereiro de 2018, a 2.115 aeronaves.
Os aviões agrícolas são aeronaves de pequeno e médio porte, para uma ou no máximo duas pessoas. A grande maioria das aeronaves são monomotoras e têm asa baixa, para aproveitar melhor o efeito solo.
A capacidade das aeronaves costuma variar de acordo com sua empregabilidade. Aviões médios são capazes de carregar aproximadamente 900 litros de líquidos para pulverização, como é o caso do Ipanema, do Piper Panwee e do Cessna AG-Wagon. Já aeronaves maiores podem ter reservatórios de até 4000 litros, como o caso dos aviões importados utilizados em áreas extensas do Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia.
O projeto de aeronaves agrícolas pode ser bastante simples, visto o tamanho e a gama de velocidades em que elas operam. Por exemplo, é possível seguir as normas RBAC 23 para a determinação de todas as forças atuantes na aeronave, desde o envelope de voo, com o fator de carga, até as cargas atuantes em cada componente.
Após isso, utilizando as melhores práticas de dimensionamento e resistência dos materiais, ou fazendo análises numérico computacionais, é possível determinar como será a estrutura de cada componente. Um cuidado especial deve ser dado ao trem de pouso, visto que os aviões agrícolas decolam e pousam, muitas vezes, em terrenos irregulares.
O número de bicos pulverizadores também é calculado com base na área de aplicação, e depende de fatores, como velocidade de cruzeiro, taxa de deposição, volume e pressão de aplicação. Esses três últimos dados são tabulados e fornecidos pelas fabricantes dos bicos.
As críticas em cima da aviação agrícola são muito grandes, principalmente no que se refere à segurança. Para começar, o número de acidentes nesse setor supera os da aviação civil e militar. Mas as principais controvérsias estão relacionadas à contaminação que os produtos da pulverização podem causar.
Porém, diversas medidas são tomadas para que os riscos de contaminação diminuam. Por exemplo, ninguém fica nas lavouras durante o processo. Os aviões também são lavados em locais específicos, chamados pátios de descontaminação.
Relatórios da Anvisa mostraram que, na verdade, os alimentos que não são tratados por aviões são os que mais apresentam contaminação, como alface, pimentão, cenoura, tomate etc.
O Brasil tem uma das melhores aviações agrícolas do planeta. Esse setor, que já conta com 248 empresas e 548 operadores privados só tende a crescer. Ainda há muito a ser explorado e melhorado em projetos futuros de aviões agrícolas, para que se tornem mais eficientes, confiáveis e seguros.
Se você quiser saber mais sobre esse assunto, não deixe de dar uma olhada em nosso artigo sobre o tempo necessário para projetar um avião.
Boa leitura, bons estudos, e até a próxima!
Sergio Duarte
Co-Fundador do Portal Engenharia Aeronáutica