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Cintos de segurança e airbags para carros. Capacetes para motocicletas. Por que não um paraquedas balístico para o avião?
Segundo o NTSB (National Transportation Safety Board), os acidentes com aeronaves experimentais são 2,23 vezes mais frequentes que na aviação homologada e o número de fatalidades é 3,38 vezes maior.
Até 1975, poucas tentativas de colocar em prática um projeto de paraquedas para aeronaves haviam ocorrido, apesar da ideia já existir a quase um século. Nesse ano, Boris Popov, um morador de Saint Paul, Minnesota, sobreviveu a uma queda de 400 pés em uma asa-delta. “Enquanto eu caia, senti raiva pela minha falta de capacidade de fazer algo”, explica Popov. “Eu tive tempo para abrir um paraquedas. Eu sabia que eles existiam, mas ainda não haviam sido introduzidos em asas-delta.” Esse evento levou Popov a inventar tal sistema para a aeronaves e fundar a Ballistic Recovery System (BRS) em 1980.
No final de 2013, a empresa Jazz Comércio de Peças Aeronáuticas Ltda obteve a representação exclusiva para distribuição e venda dos sistemas BRS. Além disso, atualmente estão sendo desenvolvidos projetos exclusivos em parceria entre a Jazz e a BRS.
O paraquedas balístico BRS foi projetado para ser extremamente leve e capaz de ser empacotado em um compartimento pequeno. Além disso, o fator de velocidade de disparo do foguete é outro ponto fundamental. O mesmo precisa ser disparado rápido quando a aeronave está voando em baixas velocidades, permitindo assim operações em baixa altitude. Mas também precisa ser disparado mais devagar para prevenir falhas estruturais no velame em emergências ocorridas em altas velocidades.
Em 1993, após sete anos e U$1.5 milhões em pesquisa e desenvolvimento de engenharia, a BRS recebeu a primeira aprovação do FAA (Federal Aviation Administration) para instalação do paraquedas em uma aeronave certificada, um Cessna 150/152. A instalação na aeronave foi um grande passo na direção de estabelecer credibilidade e aceitação de tal sistema de segurança na comunidade aeronáutica. Ao entrar no mercado de aeronaves certificadas, e em uma aeronave conhecida, a BRS atingiu um novo patamar.
A chave para o sucesso do projeto foi o desenvolvimento do sistema de abertura do paraquedas. Os engenheiros da BRS desenvolveram um “anel deslizante” que era capaz de suprir todas as funções requeridas. O sistema patenteado “slider” foi crucial no salvamento de diversos pilotos e passageiros ao redor do mundo. Tal inovação permitiu a BRS a criação de paraquedas maiores, para aeronaves mais rápidas e mais tecnologicamente avançadas.
A empresa BRS recebeu importantes incentivos SBIR (Small Business Innovative Research) da NASA (National Aeronautics and Space Administration) para desenvolver um novo material para o velame do paraquedas que eventualmente pode reduzir o peso do paraquedas em até 50%. Em outro SBIR recebido recentemente, os engenheiros da BRS estão investigando soluções que podem ser utilizadas em PLJ (Personal Light Jets – Jatos Leves Pessoais).
A BRS é uma companhia que emprega 75 funcionários com vendas anuais de aproximadamente U$9,2M e já vendeu mais de 25000 sistemas de paraquedas e salvou mais de 370 vidas. Em 2004, o FAA (Federal Aviation Administration) e a EASA (European Aviation Safety Agency) certificaram o sistema BRS para as aeronaves Cessna 172 e 182. Todos os produtos BRS são vendidos globalmente.
Algumas aeronaves já saem de fábrica com o sistema de paraquedas desenvolvido pela BRS: Cirrus Design e Flight Design. O primeiro é o avião monomotor certificado mais vendido no mundo. O segundo é o LSA (Light Sport Aircraft – Aeronave Leve Esportiva) mais vendida no mundo. A BRS continua a desenvolver maiores e mais capazes sistemas de paraquedas balísticos para aeronaves cada vez maiores e mais velozes. Um projeto em andamento é um paraquedas para a aeronave Vans RV-10, um dos aviões experimentais mais vendidos no mundo.
Primeiramente é importante entender o básico do projeto. Alguns itens importantes que compõe o sistema são o foguete, a alavanca de ativação, as tiras de kevlar®, o painel de saída e o paraquedas propriamente dito. De maneira geral, são utilizadas três ou quatro tiras para prender o paraquedas à aeronave.
Os sistemas BRS existem em quatro formatos: VLS (vertical launch system), canister externo, canister interno e softpack.
Em situações de perigo (por exemplo: colisão aérea, falha estrutural, perda de controle, estol, parafuso, perda do motor em terreno hostil, piloto incapacitado, etc) o sistema pode ser a única alternativa. É recomendado o desligamento do motor, e que o piloto e tripulação estejam de cinto de segurança. Puxa-se então, a alavanca de ativação. O foguete então é acionado, empurrando o painel de saída e puxando o paraquedas e as tiras de fixação. O paraquedas então passa por duas fases de abertura: a primeira, de maneira parcial (reefed condition) e a segunda quando o “slider” desce ao longo das linhas de suspensão e atinge a posição final (disreefed condition). Piloto e passageiros então devem assumir a posição para pouso de emergência e aguardar a aeronave tocar no chão.
Vale ressaltar que a taxa de sucesso registrada até o presente momento é de 100% de vidas salvas.
Lembrem-se: CHUTE HAPPENS!
Aproveitem também para aprender sobre os famigerados winglets!
Obrigado e até a próxima!
Sergio Duarte
Co-Fundador do Portal Engenharia Aeronáutica